
Contabilidade brasileira avança rumo a um modelo tecnológico, sustentável e orientado à governança
A contabilidade brasileira avança para uma atuação estratégica diante de mudanças estruturais que impactam simultaneamente empresas e governo. As transformações tecnológicas, a exigência de governança robusta, a incorporação dos relatórios de sustentabilidade e a transição para o novo modelo de tributação convergem para um cenário em que a profissão assume relevância decisiva para a competitividade econômica do país. Com informações de Jornal Contábil, Sob a análise do especialista e vice-presidente do CFC, Joaquim de Alencar Bezerra Filho.

No campo tributário, a introdução do Imposto sobre Valor Agregado — que será implementado por meio do IBS e da CBS — inaugura uma fase complexa de convivência entre dois sistemas simultâneos. A necessidade de ajustes nos processos internos, revisão de cadeias produtivas, adequação tecnológica e aperfeiçoamento do planejamento fiscal demandará forte atuação técnica dos profissionais contábeis. O sucesso da reforma dependerá da capacidade de orientar organizações durante esse período de transição.
Paralelamente, a adoção dos padrões internacionais IFRS S1 e S2 altera de maneira profunda a forma como o desempenho socioambiental é mensurado e divulgado no mercado. Emissões, riscos climáticos, impacto social, governança corporativa e inventários de carbono passam a compor análises obrigatórias com rigor técnico e métricas verificáveis. Esse movimento amplia o escopo da contabilidade, que deixa de olhar somente para resultados financeiros e absorve, de forma permanente, os atributos que definem o valor sustentável das organizações.
O avanço tecnológico também remodela a rotina do setor. A automação de tarefas operacionais e o uso crescente de inteligência artificial promovem maior precisão na análise de dados, identificam inconsistências em segundos e aceleram processos que antes exigiam grandes equipes. Com isso, o profissional contábil concentra sua atuação em atividades classificadas como estratégicas, voltadas ao controle de riscos, à interpretação de indicadores e ao apoio direto na tomada de decisões.

A governança corporativa reforça ainda mais essa mudança de posicionamento. Conselhos, comitês de auditoria e estruturas de compliance incorporam especialistas contábeis como agentes centrais de validação das informações financeiras, patrimoniais e socioambientais. No setor público, o papel da contabilidade se expande como ferramenta estruturante da integridade, do planejamento e do controle social. Nenhuma gestão responsável, seja governamental ou privada, se sustenta sem informações transparentes e tecnicamente confiáveis.
Esse novo contexto altera também a percepção do mercado sobre o contador. De obrigação regulatória, o profissional passa a ser visto como investimento em segurança institucional, reputação e eficiência. O perfil exigido reúne domínio tecnológico, visão sistêmica, comunicação qualificada, capacidade analítica, liderança e atuação em ambientes regulatórios cada vez mais desafiadores.
O futuro da contabilidade no Brasil se constrói, portanto, na interseção entre tecnologia, governança e sustentabilidade. A profissão torna-se protagonista no redesenho do ambiente econômico nacional, orientando a transição tributária, assegurando conformidade, gerando transparência e contribuindo para um modelo de desenvolvimento que integra competitividade, integridade e responsabilidade socioambiental. Esse movimento já está em curso e define o novo lugar da contabilidade como base para decisões estratégicas e para o fortalecimento institucional do país.








