Operação Escudo Eleitoral -
Polícia Federal: investigação contra vereadora foi comprometida após vazamento de detalhes sigilosos
Por Rômulo Rocha - Do Blog Bastidores
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- Houve uma publicação jornalística na noite do dia 26 de novembro de 2024 “revelando detalhes sigilosos do inquérito instaurado em favor de Tatiana, incluindo a solicitação de diligências ainda pendentes de cumprimento”.
- “Tal divulgação antecipada possibilitou que a investigada tomasse ciência do teor das apurações, colocando em risco a integridade das provas”, sustentou a Polícia Federal.
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CONSEQUÊNCIAS SUPOSTAMENTE IRREPARÁVEIS
A Polícia Federal informou à Justiça Eleitoral que a vereadora Tatiana Medeiros teria destruído provas para obstruir o trabalho da Justiça, o que a defesa nega.
Para os investigadores, a eliminação de conversas eletrônicas e a ausência de equipamentos informáticos nos locais vinculados à investigada sugerem uma tentativa de frustração da colheita probatória, o que embasaria o risco à instrução criminal.
No que tange às conversas eletrônicas ela teria apagado diálogos de WhatsApp que mantinha com o companheiro Alandilson Cardoso Passos, um dos alvos.
Além de que durante a operação de busca e apreensão, não foram localizados computadores ou equipamentos eletrônicos no escritório de advocacia da vereadora, tampouco no Instituto Vamos Juntos, o que seria incompatível com a atividade de uma organização que supostamente presta serviços sociais e de um escritório de advocacia, entendem os investigadores.
A defesa de Tatiana diz, por outro lado, que o diálogo apagado, travado entre ela e Alandilson Cardoso Passos, trata-se de uma mera briga de casal, que foi deletada não para burlar a investigação, da qual a vereadora sequer tinha conhecimento, mas apenas com o intuito de esquecer o episódio e retomar a relação afetiva entre ambos.
Acresceu que a apreensão do aparelho telefônico da investigada, bem como o cumprimento dos mandados de busca e apreensão no Instituto Vamos Juntos e Escritório de Advocacia Brandão & Medeiros Sociedade de Advogados ocorreram no dia 17/12/2024 e, até então, a Vereadora Tatiana Medeiros não tinha conhecimento sobre qualquer investigação que envolvesse sua pessoa.
Esse é um dos pontos que a PF discorda.
VAZAMENTO DAS INVESTIGAÇÕES
Anterior a essas buscas e apreensões, o delegado da Polícia Federal Daniel Araújo Alves havia alertado à Justiça Eleitoral que houve um “vazamento do inquérito policial pela imprensa, que comprometeu o sigilo da investigação”, através de um portal de notícias de Teresina.
Houve uma publicação jornalística na noite do dia 26 de novembro de 2024 “revelando detalhes sigilosos do inquérito instaurado em favor de Tatiana, incluindo a solicitação de diligências ainda pendentes de cumprimento”.
“Tal divulgação antecipada possibilitou que a investigada tomasse ciência do teor das apurações, colocando em risco a integridade das provas”, sustentou o delegado de polícia.
A vereadora chegou a enviar nota rebatendo a publicação jornalística, que depois de apagadas algumas informações, foi finalmente retirada do ar.
A Polícia Federal entrou em contato com o portal explicando as consequências do ato.
Na época, Daniel Araújo Alves informou ainda à Justiça Eleitoral que “o vazamento comprometeu o andamento da investigação pelas seguintes razões:
a) Risco de destruição de provas: Sabendo da existência do inquérito e do teor das diligências, a investigada pode adotar medidas para ocultar ou destruir documentos, dispositivos eletrônicos e outros elementos probatórios;
b) Obstrução da investigação: A publicidade prematura permite à investigada e a eventuais coautores coordenar versões, dificultando a identificação de vínculos e o rastreamento da origem dos recursos ilícitos.
c) Prejuízo à eficácia das diligências: O cumprimento tardio de medidas investigativas pode resultar na perda de provas cruciais, enfraquecendo a elucidação dos fatos e comprometendo a responsabilização dos envolvidos.”
Com o vazamento a PF, na petição à justiça, informou ser um reforço da “necessidade urgente” da medida cautelar para determinar buscas e apreensões e evitar a sangria de provas.
Vindo a acrescer que “diante do contexto apresentado, a busca e apreensão domiciliar se mostra imprescindível, não apenas para resguardar a integridade da investigação, mas também para impedir que o avanço das práticas criminosas associadas ao processo eleitoral se consolide, protegendo, assim, os interesses da sociedade e a credibilidade do processo democrático”.
Apenas 2 dias após o vazamento a representação foi enviada à Justiça Eleitoral requerendo autorização para deflagração da operação, que seria realizada no final do ano passado, pouco antes do Natal.
À essa época do vazamento, o companheiro da vereadora já havia sido preso, em ação ocorrida na data de 14 de novembro, em um hotel em Belo Horizonte, durante operação do Denarc, da Polícia Civil, em parceria com a Polícia Federal.
A vereadora estava presente na ocasião, e com passagem comprada para São Paulo. Em nota, e mesmo com a PF batendo à sua porta em investida interestadual, ela chegou a dizer que estava em "viagem de descanso após uma campanha política bem sucedida".
SUPOSTA DESTRUIÇÃO DE PROVAS
Após as buscas e apreensões realizadas no final de dezembro, na operação em que a Polícia Federal acompanhava a então vereadora eleita através de informaões oriundas das estações rádio-base utilizadas pela investigada - que permitem a sua real localização via torres de celular, vez que os investigadores tinham como um dos objetivos a busca pessoal para apreensão do aparelho telefônico móvel e queriam evitar novas frustações -, a polícia judiciária reportou à Justiça que realmente teria existido destruição de provas.
Essas suspeitas aliadas a outros elementos de informação colhidos e analisados viriam a contribuir para a prisão da nova integrante da Câmara de Vereadores de Teresina, bem como para a manutenção de sua prisão pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PI).