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PCC usava grupos no zap para monitorar polícia e fazer “rifa do crime”

As investigações da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), no âmbito da Operação Mosaico, revelam que o Primeiro Comando da Capital (PCC) estruturou no Distrito Federal uma rede de grupos de WhatsApp organizada por regiões administrativas. Longe de simples canais de conversa, esses grupos funcionavam como células operacionais, gerindo desde a rotina de integrantes até a arrecadação de recursos para sustentar atividades criminosas.

Cada grupo atuava de forma territorializada, acompanhando a dinâmica local em regiões como Ceilândia, Taguatinga, Samambaia, Planaltina, Gama, Paranoá e outras áreas do DF e do Entorno goiano.

Controle e arrecadação

Nos grupos, eram repassadas ordens diretas, distribuídas tarefas e organizadas ações financeiras, incluindo rifas internas, caixinhas e outras formas de arrecadação, com objetivo de levantar recursos para compra de armas, custeio de advogados e despesas operacionais da facção.

A análise pericial de celulares apreendidos mostrou que, embora a arrecadação fosse descentralizada, o controle das decisões permanecia centralizado. Cada região tinha responsáveis diretos, encarregados de prestar contas aos níveis superiores do PCC. Esses operadores locais:

  • Organizavam rifas e cobranças periódicas;
  • Controlavam contribuições obrigatórias de integrantes;
  • Repassavam valores para instâncias superiores;
  • Monitoravam o comportamento dos membros sob sua área de atuação.

A lógica se assemelha a um modelo empresarial, no qual cada região funciona como um setor com metas financeiras e obrigações bem definidas.

Núcleo da disciplina e listas da morte

Um dos núcleos mais sensíveis era o grupo da “disciplina”, responsável por acompanhar integrantes de baixa hierarquia, especialmente os que estavam em liberdade. Esse setor atuava como fiscal interno da facção, avaliando condutas, cobrando resultados e aplicando sanções.

É nesse contexto que surgem as chamadas listas da morte — registros informais que reúnem nomes de indivíduos considerados traidores, indisciplinados ou suspeitos de romper com o PCC. Conhecidos internamente como “decretados”, esses alvos passam a ser monitorados até que a ordem de execução seja colocada em prática.

Segundo os investigadores, essas listas não surgem de forma aleatória, mas resultam de relatórios internos, trocas de mensagens e validação por integrantes com maior poder decisório.

Um exemplo ocorreu em setembro de 2024, em Planaltina, quando um homem foi assassinado após ser “decretado” por romper com o PCC e tentar migrar para uma facção rival, o Comando Vermelho (CV). Para os investigadores, o homicídio não foi um episódio isolado, mas o desfecho de uma decisão tomada previamente nos ambientes digitais da facção, reforçando a tese de que a violência é precedida por um fluxo organizado de informações e ordens.

Essa rede permitia que o PCC mantivesse coesão e disciplina, mesmo com parte de seus integrantes encarcerados, demonstrando a capacidade da facção de operar de forma remota e contínua.

Operação Mosaico

A desarticulação dessa estrutura começou com a Operação Mosaico, deflagrada em 18 de dezembro. Foram cumpridos 17 mandados de prisão temporária e 17 de busca e apreensão em diversas regiões do DF e municípios do Entorno, com a participação de mais de 100 policiais, incluindo Polícia Civil, Polícia Militar, sistema penitenciário e apoio aéreo.

A operação teve como base a análise técnica de dispositivos eletrônicos, que revelou a extensão da rede criminosa, a setorização territorial e a existência de ordens relacionadas tanto ao financiamento quanto à prática de crimes violentos.

Fonte: Metrópoles

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