
Como adolescentes abastecem mercado online ilegal de animais silvestres
Tiago (nome fictício), um estudante de medicina veterinária de 24 anos, sempre teve grande interesse por animais, com predileção por répteis. Ele os considera fascinantes, de fácil manejo e com menos demanda do que cães e gatos. Desde os 14 anos, mantém espécies como iguanas, cobras, quatis e até macacos, muitos deles de maneira ilegal. Influenciado por canais estrangeiros no YouTube, como o Jay Prehistoric Pets, Tiago passou a colecionar e ocasionalmente vender esses animais, prática proibida por lei no Brasil.

De acordo com uma pesquisa recente da Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres), jovens com menos de 30 anos representam uma parcela significativa dos envolvidos na comercialização clandestina de fauna silvestre. Foram analisadas cerca de 3 mil mensagens trocadas em grupos de WhatsApp que organizam essas transações. Embora alguns dos participantes estejam apenas por curiosidade, muitos agem como pequenos comerciantes informais, com motivações que misturam hobby e desejo de lucro.
O comércio ilegal funciona de maneira descentralizada e sigilosa, utilizando grupos fechados em aplicativos de mensagem, pseudônimos, chips internacionais e até ferramentas de navegação anônima como VPNs. Para evitar detecção, vendedores anunciam produtos falsos em sites de comércio eletrônico e combinam com os compradores o envio de animais, burlando os sistemas de monitoramento dessas plataformas. Essa estrutura dificulta o trabalho das autoridades e alimenta um mercado paralelo com ampla participação de jovens, inclusive menores de idade.
Apesar de muitos afirmarem não retirar os animais diretamente da natureza, especialistas alertam que esse argumento mascara o impacto ambiental e legal da prática. Jovens são frequentemente cooptados para esse mercado em regiões com rica biodiversidade e acabam vendo a atividade como algo comum ou até benéfico. Operações de fiscalização do Ibama têm flagrado, com frequência, adolescentes envolvidos nesse comércio, muitas vezes motivados pela influência de conteúdos em redes sociais que romantizam a posse de animais silvestres.